A Semana Informática no seu número 1033 de 29 a 4 de Agosto convidou a Neoscopio para participar com a sua opinião neste número cujo tema de capa é o software Open Source.
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Software livre mais consistente
De Patrícia Calé/Casa dos Bits
Semana nº 1033 de 29 de Julho a 4 de Agosto
A crise actual e a consequente necessidade de cortar despesas abre portas às soluções open source, que entretanto ganharam maturidade e oferecem cada vez mais argumentos a quem investe na tecnologia
O interesse pelas soluções open source está mais abrangente. Hoje em dia, já existem muitas organizações, algumas de grande dimensão a nível nacional, privadas ou da Administração Pública, cujos sistemas mais críticos de negócio recorrem com sucesso ao software livre.
Embora não tão acentuado como o desejável para as empresas que actuam na área, o crescimento tem sido contínuo, e nos últimos anos a crise instalada acabou por ter um papel fundamental nesta evolução confirmada do interesse pelo open source. Por outro lado, também não se retira o mérito ao sector, que disponibiliza uma oferta cada vez mais madura, estável e diversificada
. Para a IPortalMais, 2011 será mais um ano de crescimento de vendas. «Claramente com uma crise económica instalada, as empresas têm cada vez mais dificuldade em fazer investimentos. Mas as tecnologias open source em que nós operamos têm francamente um valor acrescentado para os clientes, ao permitir-lhes continuar a evoluir ou manter os seus sistemas de informação e comunicação sem incorrer em custos absurdos», argumenta Raul Oliveira.
O responsável admite que queria crescer mais do que o esperado, «mas crescer em tempo de crise, quando o País entra em recessão e a maioria das empresas tem crescimentos negativos importantes, é de facto muito positivo».
Apesar de se notar uma diminuição do investimento por parte das empresas e da Administração Pública, o negócio também tem corrido bem à Caixa Mágica durante este ano. «O software open source acaba por ser um refúgio seguro para quem quer manter os standards de qualidade mas quer baixar preços. Com base nesse raciocínio, têm surgido oportunidades interessantes», afirma Paulo Trezentos.
Por isso, a estratégia para os próximos meses passa por «continuar a apostar no desenvolvimento da distribuição de Linux, incorporando os resultados de projectos de investigação europeus, e algumas novas apostas para o mercado global», a revelar oportunamente, adianta o responsável. Já a Neoscopio, que oferece soluções em áreas como rapid development, business intelligence, gestão de conteúdos e workflow, nota que o negócio tem assistido a uma «maior abertura» por parte do grande público e de entidades institucionais.
«Em termos de grande público, temos verificado uma crescente apetência por aplicações open source, não tanto pelo tipo de licenciamento em si, mas pelas funcionalidades e qualidades das aplicações existentes, presentemente em grande número e já "top shelf", em comparação com aplicações ditas proprietárias», indica Miguel Andrade, apontando como exemplo o gestor de conteúdos Drupal, que agora conta com uma associação portuguesa de utilizadores (www.drupal-pt.org).
ESOP assina acordo internacional para promover open source
A Associação de Empresas de Software Open Source Portuguesas (ESOP) juntou-se a mais cinco entidades ligadas ao sector, oriundas de Espanha, Brasil e Argentina, além de Portugal, para promover a tecnologia. O Acordo Atlântico, assim se chama a iniciativa, tem como objectivo «estabelecer canais de comunicação que resultem na realização de projectos com impacto global», refere um comunicado enviado à imprensa. A mesma nota indica que nos últimos meses, as seis entidades que integram a parceria criaram um «plano de acção para o desenvolvimento económico e social da tecnologia open source entre países de ambos os lados do Atlântico», com o compromisso de tentar incentivar «modelos de negócio baseados em open source que produzam crescimento económico, riqueza e partilha de informação». A parceria consagra ainda um princípio – de âmbito empresarial e social – de geração e transferência de conhecimento de igual para igual, que as associações pretendem levar para além dos ambientes em que operam, garante-se. Além da ESOP, Asociación Galega de Empresas de Software Libre-Galiza (AGASOL), Associação Software Livre Brasil (ASL), Federación Nacional de Empresas de Software Libre-Espanha (ASOLiF), Cámara Argentina de Empresas de Software Libre (CAdESoL) e Asociación Civil Software Libre Argentina (SOLAR) apresentam o Acordo Atlântico como uma «primeira pedra» no sentido de consolidar processos de internacionalização durante os próximos anos. A iniciativa é igualmente considerada uma «prova de maturidade e visão global das organizações», esperando-se que reforce «o ponto alto que o software open source atravessa em todo o mundo, particularmente nos países hispânicos e lusófonos». |
A este aumento do interesse entre o público em geral não será alheia a promoção que a Google tem vindo a fazer do sistema operativo para dispositivos móveis Android, defende o director-geral da Neoscopio.
No que diz respeito a um público mais técnico, o responsável acredita que uma das razões que mais têm contribuído para o crescimento da adopção do software livre tem sido o facto de as soluções de apoio à administração de sistemas, nomeadamente na área da virtualização de hardware, «área em que vimos aparecer software de interface e apoio à gestão das tecnologias de virtualização e cloud computing», terem amadurecido.
«O licenciamento open source já liderava este tipo de tecnologias, mas a existência de software de apoio ao seu uso tem tornado as soluções muito mais apelativas para o grande número de administradores de sistemas que se sente mais confortável com o uso de rato e interfaces gráficas do que com o uso de uma consola de texto com linha de comandos», afirma o responsável da Neoscopio.
No campo das instituições, Miguel Andrade aponta o facto de o open source já estar definitivamente implementado nas principais faculdades dedicadas à tecnologia, e lembra que no âmbito do Sétimo Quadro de financiamento da União Europeia tem aparecido um grande número de projectos que se propõem usar, desenvolver ou criar de raiz soluções open source, nomeadamente aquele que a empresa mantém com mais duas congéneres e quatro universidades europeias, entre as quais a Universidade do Porto. A parceria tem como objectivo desenvolver frameworks que potenciem o ensino em áreas dependentes de tecnologias em rápida evolução.
Menor custo no topo dos argumentos
Independentemente do contexto, entre as razões que levam à procura de uma solução open source, o menor custo de aquisição continua a ser apontado como a principal justificação. «O preço será sempre uma condicionante, principalmente num período de contenção como o que temos vivido», nota Mário Pereira Martins.
O partner da JavaLi, empresa cujo portefólio de soluções passa pelo SugarCRM, Alfresco, Drupal e Magento, entre outras, defende que neste momento ainda há falta de informação clara e objectiva sobre o que é de facto o open source, «quais as oportunidades de utilização, quais as suas vantagens e fraquezas e que critérios objectivos devem presidir à sua adopção ou não», o que vem condicionar a aposta no sector.
«A maioria das empresas admite ter conhecimentos escassos sobre o tempo de resposta na introdução de conteúdos, a possibilidade de personalizar as soluções consoante as necessidades sem custos adicionais de licenciamento, a flexibilidade, entre outros, argumentos hoje muito válidos para a adopção das soluções open source», declara Mário Pereira Martins.
Começando por referir que o abrandamento económico beneficiou o sector, dado as empresas considerarem com mais peso o custo financeiro das soluções a implementar, Miguel Andrade acha, no entanto, que as organizações continuam a olhar de forma muito limitada para as mais-valias que o software open source pode oferecer. «O mercado tem vindo a olhar principalmente para o custo como vantagem, e só em segundo lugar considera as restantes vantagens, ou seja, tem privilegiado o total cost of ownership em vez do return on investment.»
Para o responsável da Neoscopio, o software open source tem vantagens nas duas componentes, «mas é muito mais eficaz no ROI, principalmente a médio/longo prazo, dado a sua grande flexibilidade e as capacidades de adaptação e integração com outros sistemas».
Paulo Ribeiro, CEO da Linkare, acrescenta outros argumentos, como a independência face ao fornecedor de serviços, a autonomia e a interoperabilidade com outros sistemas, e aponta como um handicap adicional o facto de a adopção de software livre continuar a ser pontual, embora já comece a obedecer a uma estratégia de migração mais abrangente. «Temos sentido uma evolução muito interessante nos últimos tempos, com clientes a manifestarem a intenção de procederem a migrações globais para software open source», nota o CEO da Linkare, que actua na área do desenvolvimento de portais (liferay e GateIn), websites e aplicações e na implementação de sistemas de integração contínua (Hudson, SVN, Sonar, Maven, Bugzilla).
Mais open source se…
A evolução do software livre no mercado português tem vindo a ganhar consistência, mas o sector poderia crescer a um ritmo maior caso se observassem determinadas premissas, algumas delas já antigas, como por exemplo o Estado seguir as recomendações da União Europeia, que já há alguns anos aconselha as instituições públicas a usar o open source.
«Isto fomentaria um mercado nacional, por empresas nacionais. Aumentaria a procura no mercado de programadores/consultores de software e cooperação entre empresas. No fundo, seria uma forma fácil de o estado fomentar uma área económica ligada ao conhecimento, não dependente de factores externos», argumenta Miguel Andrade, da Neoscopio.
Acabar com o monopólio da venda de computadores com sistemas operativos da Microsoft e da Apple pré-instalados; eliminar barreiras existentes na compra de soluções open source pela Administração Pública; regulamentar as leis relativas às normas abertas e garantir a sua concretização na relação da AP com os cidadãos e as empresas; e criar um programa para adopção preferencial de software open source no Estado, com impacto positivo sobre a economia, são as sugestões deixadas por Paulo Ribeiro, da Linkare.
Mário Pereira Martins defende, por sua vez, que algumas medidas já estão a ser implementadas, como por exemplo os cursos disponibilizados pelas Universidades portuguesas na área de open source. «Num futuro próximo, estes cursos vão trazer benefícios, não só porque vão quebrar as barreiras a nível sociocultural, onde existe falta de esforços de sensibilização e familiarização dos mais jovens, bem como na divulgação da utilização de produtos de uso livre». Outras medidas poderiam ser implementadas ao nível político, técnico e educativo, acrescenta o partner da JavaLi.
Independentemente das medidas que venham a ser adoptadas, o software open source está hoje presente em todos os sectores de actividade, existindo no mercado soluções para responder a toda a espécie de necessidades: sistemas operativos, bases de dados, soluções empresariais, soluções de produtividade, Web, educação, comunicações (VoIP), aplicações especializadas.
«No futuro será de esperar uma maior maturidade de um conjunto mais alargado de soluções e o emergir de novas soluções, em todas as áreas, tecnologicamente inovadoras», considera o responsável da Linkare.
Nascido nos anos 80 com a construção de uma alternativa aberta para o sistema operativo Unix (GNU), que hoje conhecemos de forma genérica como Linux, o software open source oferece actualmente resposta para quase qualquer necessidade. Só o repositório SourceForge.net conta com 300 mil projectos registados.
«A Apple usa software open source como base do seu sistema operativo para PC, o sistema operativo daGoogle para dispositivos móveis, o Android, é open source, o Firefox e o Google Chrome já são mais usados do que o Internet Explorer... Até no hardware temos vindo a ver cada vez mais soluções open source», nota Miguel Andrade. E com este cenário, em vez de perguntarmos em que áreas poderemos ter software open source, talvez pudéssemos colocar a pergunta ao contrário: «Em que áreas não existirá software open source?»
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